"Semear terror". Elon Musk publica identidades de funcionários federais que quer demitir

por Carla Quirino - RTP
Brandon Bell - Reuters

Elon Musk, o futuro chefe da "eficiência governamental" de Donald Trump, está a listar na rede social X os nomes de funcionários federais que ver fora da nova Administração republicana. Alega que são "empregos falsos". A Federação Americana de Funcionários do Governo afirma que "essas táticas visam semear terror e medo entre os funcionários".

Em pelo menos duas publicações no X, Elon Musk enumerou alguns nomes e cargos de pessoas que ocupam títulos governamentais menos conhecidos na área do clima e que quer despedir do Governo Federal norte-americano.As pessoas em causa viram, de imediato, os seu nomes tornarem-se virais após o amplo grupo de seguidores de Musk visualizar dezenas de milhões de vezes as publicações e tecer comentários como “o comboio da alegria acabou”.

Os funcionários federais foram ainda alvo de comentários negativos, obrigando mesmo a alguns apagarem as contas nas redes. Temem ficar na mira do homem mais rico do mundo, diz Everett Kelley, o presidente da Federação Americana de Funcionários do Governo.

Kelley, que representa mais de 800 mil dos 2,3 milhões de funcionários federais civis, acrescenta que “essas táticas visam semear terror e medo em funcionários federais”.

“A intenção é fazê-los temer e ficarem com medo de falar”, insiste.

Vários académicos especializados em assédio cibernético e abuso online, sob anonimato, também com receio de se tornarem alvos de Musk, comentaram na CNN: “O que está a acontecer tem um efeito assustador".

Acrescentam que estas publicações são o exemplo de um "padrão clássico" de assédio cibernético.
Caso Cummings. "É a forma de intimidar as pessoas”
Mary "Missy" Cummings, professora de engenharia e ciência da computação na Universidade George Mason, atingiu o milionário depois de apontar algumas críticas à Tesla, quando estava na Administração Nacional de Segurança no Tráfego Rodoviário. Sentiu uma intimidação semelhante.

Após esses comentários, Cummings despertou uma clara animosidade por parte de Elon Musk.

"É a forma de ele intimidar as pessoas para que desistam ou enviem um sinal para todas as outras agências de que vocês são os próximos", afirmou.

Cummings, citada na CNN, revela que foi mesmo forçada a deixar sua casa temporariamente por receber ameaças de morte. Acrescenta que o clima de intimidação já está a levar a alguns funcionários federais, que “dedicaram as vidas ao serviço público”, a anteciparem a vaga de assédio e a deixarem os empregos.

“Ele (Musk) pretende que pessoas como essas sejam intimidadas e simplesmente peçam a demissão, para que ele não tenha que o fazer. Por isso, o plano dele, até certo ponto, está a funcionar”, sublinhou.
Os visados
Numa das publicações, Musk replica a sugestão de que a sobrinha da antiga speaker da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, que trabalha como consultora sénior na área das alterações climáticas no Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano, não receba o montante que ganha.

“A sobrinha de Nancy Pelosi não deveria receber 181.648 dólares (172 mil euros) pagos pelos contribuintes dos EUA para ser a Consultora Climática do HUD”.  Musk ironiza de seguida: “Mas talvez os conselhos dela sejam incríveis”.


A publicação incluí também os nomes e cargos de outros dois funcionários. Um é o diretor climático do Departamento de Energia, serviço que curiosamente, com o seu programas de empréstimos, em 2010, concedeu à Tesla um investimento de 465 milhões de dólares (441 milhões de euros).

Outro é o nome de um funcionário que trabalha como consultor sénior em justiça ambiental e alterações climáticas no Departamento de Saúde e Serviços Humanos.

“Tantos empregos falsos”, legendou Musk na publicação.


Quando Donald Trump tomar posse da Administração norte-americana, no início de 2025, Musk ocupará o cargo de codiretor do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) — estrutura especificamente criada para o milionário tentar acabar com a burocracia federal e expurgar agências governamentais do quem for considerado funcionário supérfluo. 

Estas publicações deixam antever a estratégia que Musk irá utilizar.

Cummings, que também foi uma das primeiras mulheres pilotos de caça da Marinha dos EUA, reitera: “Alguém tem que falar. Eu não vou deixá-lo vencer com estes abusos”.
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